Democracia de massas

O período que vai de 1945 a 1964 é um dos mais férteis e ricos da vida política nacional. Com a derrota do nazi-fascismo na II Guerra, os regimes democráticos e os ideais de justiça e igualdade social se fortaleceram no mundo. No Brasil, a nova Constituição proclamou que o voto era a base do regime democrático e que todos eram iguais perante a lei. O povo acreditou que era para valer e começou a construir no país uma democracia de massas. Queria falar, participar, decidir.

Pela primeira vez, as mulheres votaram para presidente da República. Milhões de brasileiros entraram de corpo e alma na vida política. O número de eleitores multiplicou-se rapidamente, sepultando o jogo de cartas marcadas da Primeira República. A classe média consolidou sua presença e ganhou grande relevância política. Mais expressiva ainda foi a entrada em cena dos trabalhadores, que passaram a ter um papel crescente na vida política nacional. O país despertou para suas enormes potencialidades e seus imensos problemas.

Foram anos de forte crescimento econômico, de industrialização, urbanização e migração. A Petrobras foi criada e o BNDES, fundado. Brasília, no coração do Planalto Central, tornou-se a nova capital federal, abrindo caminho para a interiorização da economia. Rodovias integraram o país. Grandes hidrelétricas foram inauguradas.

Foram anos também de grande florescimento artístico, em que intelectuais, escritores, teatrólogos, cineastas e músicos resgataram nossas raízes e abriram novos caminhos de expressão. 

Foram anos ainda de extraordinária efervescência política. Novos temas, antes considerados tabus, entraram na agenda nacional: aumento real do salário mínimo, extensão dos direitos trabalhistas ao campo, reformas de base e política externa independente. A maioria dos brasileiros passou a apostar no Brasil – e lutar por um futuro melhor.

Perdemos em casa a Copa do Mundo em 1950? Daríamos a volta por cima em 1958 e 1962, conquistando o bicampeonato mundial. “Com brasileiros, não há quem possa”, comemorava a marchinha. Foram anos que mudaram a cara e a alma do Brasil. Não é a toa que ficaram conhecidos como “os anos dourados”.

Dourados mas nem tanto.  Os setores conservadores jamais se conformaram com o crescimento da influência política dos trabalhadores e com a existência de uma democracia de massas no país. À falta de votos para vencer as eleições e de propostas para lidar com as demandas sociais das multidões, por quatro vezes apelaram para golpes de estado liderados pelos altos comandos das Forças Armadas. Queriam impedir que os presidentes eleitos pelo povo governassem o país. Foram derrotados três vezes – em 1954, 1955 e 1961 –, mas em 1964, com o apoio ostensivo dos Estados Unidos, lograram seus objetivos. Um golpe militar, convocado pelos setores conservadores, pelos meios de comunicação e pelo grandes grupos empresariais, depôs o presidente constitucional, fechou as portas da democracia e mergulhou o país na mais longe e terrível noite de terror de sua História.