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Resistência cultural Charges

Caricaturas, charges e cartuns são formas de expressão que se valem do humor e da ironia como condutores de uma visão crítica do mundo. A caricatura retrata figuras públicas, acentuando alguns traços para promover sua dessacralização; a charge faz um comentário quase impressionista sobre alguma matéria do cotidiano; cartuns são narrativas visuais sequenciais que integram texto e desenho com larga variedade de opção temática e de tratamento. No Brasil, as três formas têm sua origem no século 19. Nasceram na imprensa popular e sempre procuraram proclamar sua independência e autonomia em relação aos poderosos e às estruturas de poder do Estado – qualquer Estado.

Resistência cultural / Charges Claudius

Claudius Sylvius Petrus Ceccon (Garibaldi/RS, 1937]. Claudius começou como cartunista aos 19 anos no “Jornal do Brasil”. Em 1969, passou a integrar a equipe de “O Pasquim”. Foi preso no ano seguinte juntamente com toda a equipe do jornal. Seguiu para o exílio em 1971 e só regressou em 1978, quando passou a se dedicar a projetos sociais que visam a educação e o acesso à informação por populações carentes.

Resistência cultural / Charges Fortuna

Reginaldo José de Azevedo Fortuna (São Luís, 1931 - Rio de Janeiro, 1994]. Fortuna iniciou a carreira publicando seus trabalhos em livros infantis. Foi diretor de arte na revista “Pif-Paf”, lançada e fechada em 1964. Em 1969, integrou o grupo fundador do jornal “O Pasquim”. Também fez parte da equipe de cartunistas que trouxe ao Brasil influências do cartum norte-americano e europeu.

Resistência cultural / Charges Jaguar

Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe (Rio de Janeiro, 1932]. Conhecido como Jaguar, foi um dos mais importantes cartunistas brasileiros. Teve sua primeira publicação na revista “Manchete”, em 1957. No final da década de 1960, ajudou a fundar “O Pasquim”, onde criou um dos seus mais icônicos personagens, o ratinho Sig.

Resistência cultural / Charges Juarez Machado

Juarez Machado (Joinville/SC, 1941]. Foi chargista dos principais jornais brasileiros e mímico do programa “Fantástico”, da TV Globo. Estudou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e se dedicou a diferentes formas de expressão artística, como pintura, desenho, escultura, cenografia e fotografia. Ao longo de sua renomada carreira, montou ateliês de pintura em Paris, Rio de Janeiro e Joinville.

Resistência cultural / Charges Millôr Fernandes

Milton Viola Fernandes (Rio de Janeiro, 1923-2012]. Millôr Fernandes foi uma das maiores referências para o cartum brasileiro. Publicou nas páginas de revistas de grande circulação como “Veja”, “IstoÉ” e “O Cruzeiro”. Foi também um dos fundadores de periódicos importantes como “Pif-Paf” e “O Pasquim”.

Resistência cultural / Charges Redi

Sílvio Redinger (Rio de Janeiro, 1940-2004]. Conhecido como Redi, foi cartunista de “O Pasquim” e do jornal “Última Hora” nas décadas de 1960 e 1970. Nos anos 1980, radicou-se nos EUA e trabalhou no “The New York Times” – foi autor das únicas duas charges já publicadas na capa do jornal norte-americano. Conhecido internacionalmente como cartunista, Redi também foi ilustrador, pintor e ator.

Resistência cultural / Charges Ziraldo

Os anos 1960 e 1970 marcaram o amadurecimento político e estético de uma geração de artistas iniciada a partir do final da década de 1940. Entre eles, figuravam Fortuna, Millôr Fernandes, Jaguar, Claudius, Ziraldo, Redi, Juarez Machado. Estilos fortíssimos, narrativas visuais sustentadas graficamente na ironia do risco, no acabamento dos desenhos, na simplicidade criadora de um traço caricatural.

Resistência cultural / Charges Angeli

Arnaldo Angeli Filho (São Paulo, 1956]. Durante os anos de trabalho no jornal “Folha de S.Paulo”, Angeli criou diversos personagens com características urbanas, dentre eles Rê Bordosa, Bob Cuspe e Wood & Stock e, em 1985, fundou a revista “Chiclete com Banana”. Seu trabalho é um dos mais repercutido e circula em mais de 20 jornais brasileiros.

Veja um trecho da animação
“Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’ n ‘ Roll”

Resistência cultural / Charges Caulos

Luís Carlos Coutinho (Araguari/MG, 1943]. Cartunista do semanário “O Pasquim”, Caulos também desenhou para o “Jornal do Brasil”, “Última Hora” e para o “The New York Times”. Também é conhecido por denunciar o conflito entre desenvolvimento e meio ambiente, tema dos seus primeiros livros “Só Dói Quando Respiro” e “Errar é Humano”. Também publicou “Mondrian, o Holandês Voador”, “A Última Flor Amarela”, “O Princípio e o Fim”, “O Jardim da Infância de Matisse” e “Segredo de Magritte”.

Resistência cultural / Charges Ciça

Cecília Vicente de Azevedo Alves Pinto (São Paulo, 1939]. Uma das poucas mulheres cartunistas na história brasileira, Ciça é jornalista, quadrinista e autora de livros infantis. É conhecida por trazer animais politizados – entre eles O Pato – como personagens de suas charges e também por publicá-las em forma de história em quadrinhos. Trabalhou em jornais como “Folha de S.Paulo” e “Jornal do Brasil”.

Resistência cultural / Charges Edgar Vasques

Edgar Luiz Simch Vasques da Silva (Porto Alegre, 1949]. É ilustrador, artista gráfico e cartunista, criador do personagem Rango. Em plena ditadura, Rango era um anti-herói: esfomeado, representante da pobreza brasileira, que observava ironicamente a miséria e a desigualdade social do país. Suas tiras foram publicadas em diferentes jornais de ampla circulação e da imprensa alternativa. É conhecido também pelas ilustrações do quadrinho "Analista de Bagé" e é autor de livros de humor.

Resistência cultural / Charges Guidacci

Carlos Jorge Guidacci (Manaus, 1939]. É um cartunista conhecido pelo seu trabalho em “O Pasquim”. Também caricaturista e ilustrador, Guidacci trabalhou para o “Jornal do Commércio”, “Última Hora”, “O Globo” e “Bundas”, entre outras publicações. Observador crítico da realidade brasileira, chegou a ser processado pela Lei de Segurança Nacional pelas ilustrações publicadas no “Pasquim” durante a ditadura e foi anistiado.

Resistência cultural / Charges Laerte

Laerte Coutinho (São Paulo, 1951]. Uma das principais cartunistas brasileiras, Laerte sempre conciliou arte com posicionamento político e crítica social, desenhou para diversos periódicos, criou revistas, publicou livros e escreveu para a televisão. Atualmente, além do trabalho com cartum, se dedica à luta dos LGBTs.

Resistência cultural / Charges Lor

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues (Jesuânia/MG, 1949]. Autodidata em artes plásticas, LOR é um cartunista que colaborou com “O Pasquim”, “Estado de Minas” e “Jornal do Brasil”, entre outros veículos. Durante a ditadura, foi acusado de ser terrorista por ter sido filiado ao movimento Corrente. Referência como cartunista, já recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais. LOR é também doutor em biologia molecular, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG] e coordenador do Centro de Referência em Neurofibromatose.

Resistência cultural / Charges Luiz Gê

Luiz Geraldo Ferrari Martins (São Paulo, 1951]. Formado em arquitetura pela USP em 1972, publicou a revista “O Balão”, que trouxe à luz talentos do desenho de humor brasileiro como Laerte, Angeli e os irmãos Paulo e Chico Caruso. Posteriormente, fundou a Circo Editorial, responsável pela publicação de revistas importantes como “Chiclete com Banana”.

Resistência cultural / Charges Miguel Paiva

Miguel Paiva (Rio de Janeiro, 1950]. O cartunista trabalhou no semanário “O Pasquim” e é autor dos personagens Radical Chic, Ed Mort e Gatão de Meia Idade. Em parceria com o escritor Luís Fernando Veríssimo, publicou cinco livros. Também é criador dos personagens Chiquinha (jornal “O Globo”] e Bebel, a Top Top Model (revista “Contigo”]. Além de cartunista, Miguel Paiva é diretor de arte, autor de teatro, roteirista de cinema, publicitário, jornalista e ilustrador.

Resistência cultural / Charges Nani

Ernani Diniz Lucas (Esmeraldas/MG, 1951]. Foi cartunista de “O Pasquim”, da revista “Mad” e de jornais como “Última Hora”, “Tribuna da Imprensa” e “Diário de Notícias”. Atualmente, publica a tira "Vereda Tropical" em vários jornais brasileiros. Foi redator do programa “Chico Anysio” desde os anos 1970. É autor de vários livros, entre eles "Humor Politicamente Incorreto" e "É Grave, Doutor?"

Resistência cultural / Charges Nilson

A geração que tomou impulso durante a década de 1970 incluiu, entre outros, Guidacci, Nani, Laerte, LOR, Nilson, Ciça, Miguel Paiva. Recorreu ao uso de diversas novidades: a grafia pela grafia, típico do trabalho de Caulos; a estrutura gráfica incomum experimentada por Lapi com as Urbanóides; as aventuras poéticas e sem protagonistas produzidas pelo traço de Luiz Gê; a fúria do humor de Edgar Vasques; a acidez de Angeli, trazendo para a pauta política temas do comportamento e a herança da contracultura.

Resistência cultural / Charges Pif Paf

Em 1964, um mês após o golpe militar, foi lançada a revista “Pif-Paf”, liderada por Millôr Fernandes. A equipe de redação, desenho e humor era composta por Ziraldo, Jaguar, Claudius e Fortuna e tinha textos de Sergio Porto, Rubem Braga, Antônio Maria e Leon Eliachar, com projeto gráfico de Eugênio Hirsch. Seu propósito inicial era satirizar os costumes, como fazia Millôr em sua coluna homônima na revista “O Cruzeiro”, mas com o avanço da ditadura a crítica política se acentuou. A revista durou apenas oito edições.

Resistência cultural / Charges Pasquim

Entre 1969 e 1983, o jornal “O Pasquim” foi provavelmente o mais importante veículo produtor de charges, caricaturas e cartuns de natureza política dirigidos por dois tipos muito agressivos de humor: o riso oposicionista e militante que caçoa da ditadura e o riso cínico que zomba dos costumes. O jornal circulou até 1991.

Resistência cultural / Charges O Bicho

Em 1975, a publicação de “O Bicho”, no Rio de Janeiro, radicalizou as conotações políticas do humor, inserindo-se no interior da cultura “underground”. Privilegiou o lugar das minorias e veiculou trabalhos de Wolinski, Crumb, Ops e outros estrangeiros alternativos.

Resistência cultural / Charges Humordaz

Em todo o país proliferaram jornais mais ou menos marginais, de existência esporádica e mais ou menos efêmera, praticamente voltados para a tarefa de abrigar cartunistas e seus desenhos políticos: em Belo Horizonte, surgiram o “Almanaque do Humordaz”, “Meia-Sola” e “Uai”. Em São Paulo, “Boca”, “Balão” e “Garatuja”; em Brasília, “O Risco”; em Natal, “Cabramacho” e “Maturi”; em Porto Alegre, “Araruta”; em Curitiba, “Casa de Tolerância” e “É Isso”.

Resistência cultural / Charges Henfil

Henfil (1944-1988] foi a mais importante referência do humor político para os cartunistas brasileiros. Ele sempre se esforçou para demonstrar que o poder de comunicação da charge, da caricatura e do cartum tinha seu papel na luta política, pela rapidez e clareza com que essas criações fixam posições, ideias e opiniões. Não por acaso seu desenho foi possivelmente o traço de humor mais censurado pela ditadura militar.

Resistência cultural / Charges Urubu

No trabalho de Henfil está presente a dimensão metafórica do humor – de que o personagem Urubu é emblemático. Mas sua principal característica é a crítica cáustica dos processos da modernização brasileira e da ditadura, que inspirou a criação do cangaceiro Zeferino, o Bode Francisco Orelana e a Graúna – essa última sempre desenhada com fúria, humor libertário e muita solidariedade aos que combatiam o regime militar.

Resistência cultural / Charges Graúna

Capitão Zeferino, Graúna e Bode Francisco Orelana. Do alto da caatinga, um trio indignado, irônico, valente e de espírito libertário denunciava a miséria social e resistia corajosamente aos militares. As tiras foram originalmente publicadas no Caderno B do “Jornal do Brasil”.

Resistência cultural / Charges Fradim

Henfil criou também a dupla inseparável e infernal dos Fradinhos, personagens capazes de enfrentar com crueldade, ceticismo e boa dose de sadismo qualquer forma de repressão: a religiosa, a da família, a dos costumes.

Resistência cultural / Charges Millôr Fernandes

Millôr Fernandes foi o grande mestre do humor brasileiro a partir dos anos 1950, por diversas razões: o manejo da linha pura, o uso das ideias como matéria-prima, a valorização do coloquialismo. Criou a revista “Pif-Paf”, foi co-fundador de “O Pasquim”, trabalhou nas revistas “O Cruzeiro”, “Veja” e “IstoÉ” e nos jornais “Tribuna da Imprensa”, “Jornal do Brasil” e “Correio da Manhã”.

Resistência cultural / Charges Jaguar

Jaguar trabalhou na revista “Senhor” e no jornal “Última Hora”. Em 1969, participou da fundação do semanário “O Pasquim”. Com suas figuras deformadas e o traço carregado de ironia, criou alguns clássicos do humor, como o rato Sig e a série “Átila, Você é Bárbaro”.

Resistência cultural / Charges Juarez Machado

Juarez Machado é um artista múltiplo. No desenho de humor, seu traço é lírico. Geralmente escolhe o onírico e o absurdo do cotidiano como elementos principais em seus trabalhos.

Resistência cultural / Charges Luiz Gê

Em “Macambúzios e Sorumbáticos”, Luiz Gê, artista influenciado pelo movimento “underground” norte-americano, reuniu trabalhos que abordam o final da década de 1970 e as impressões de um tempo sombrio marcado pela ditadura.

Resistência cultural / Charges Guidacci

Guidacci, que se autodenomina “o artista do traço”, também começou em “O Pasquim”. Sua grafia e seus textos precisos colocam em questão a melhor maneira de abordar o cotidiano do país.

Resistência cultural / Charges Rango

O humor que dilacera, marcado por curvas simples e traços intencionalmente sujos, ajudou a transformar Rango – o faminto e miserável personagem criado por Edgar Vasques – em um dos principais símbolos de crítica e oposição ao regime militar.

Resistência cultural / Charges Cartunistas Mineiros

O “Almanaque do Humordaz”, editado por Nilson em 1975, reunia os principais cartunistas mineiros, entre eles LOR, Mário Vale, Dirceu e Vagn. Saída das páginas do jornal alternativo “De Fato”, a transgressão dos desenhistas mineiros ocorre tanto no traço quanto na narrativa.