América Latina

República Dominicana

(Foto: Reprodução)

A ditadura de
Rafael Trujillo

Rafael Leónidas Trujillo Molina chegou ao poder na República Dominicana em agosto de 1930 e de lá só saiu em 1961, assassinado numa emboscada financiada pela Agência Central de Inteligência (CIA). Talvez seja um dos poucos casos na história da América Latina em que o governo norte-americano tenha agido para depor um ditador que sempre teve seu apoio quase irrestrito. Isso diz muito sobre o desgaste que representava, para o governo dos Estados Unidos, ter sua imagem associada à de Trujillo, um dos ditadores mais emblemáticos e autoritários da história do continente.

A família de Trujillo era dona de aproximadamente 70% das terras cultiváveis da República Dominicana — não por acaso, em 1936 ele rebatizou a capital, Santo Domingo, de Ciudad Trujillo, nome que se manteria até 1961. Fez da tortura e dos assassinatos seletivos sua arma contra as figuras políticas e civis, eliminando assim quem se pusesse no caminho. Por meio de um organizado sistema de vigilância e inteligência, auxiliado pelas forças armadas e com o apoio da igreja católica, Trujillo exerceu poder quase absoluto.

General Rafael Leônidas Trujillo com seu uniforme. (Foto: Reprodução)
Rafael Leónidas Trujillo governou o país por 31 anos (Foto: Reprodução)

Ao longo da Era Trujillo surgiram alguns movimentos de resistência, porém incapazes de ameaçar a ordem política estabelecida. No início de 1960, a polícia dominicana prendeu milhares de pessoas acusadas de tramar clandestinamente a derrubada do “Benfeitor da Pátria”. Os presos, que pertenciam às células secretas da organização clandestina Movimento Patriótico 14 de Junho, foram torturados pelo Serviço de Inteligência Militar (SIM), chefiado por Johnny Abbes García.

O centro de detenção, chamado “La 40”, era na verdade um centro de tortura equipado com artefatos modernos, onde os prisioneiros eram interrogados — não raro durante meses — para dar informações sobre o Movimento.

Esse episódio levou bispos e sacerdotes da igreja católica a pedir, em cartas pastorais, a libertação dos prisioneiros a Trujillo. Ao invés de atendê-los, porém, o ditador atacou a igreja, acusando-a de “comunista e ingrata”, já que o governante sempre oferecera apoio financeiro à construção de templos e instituições de caridade. A campanha contra os sacerdotes, encabeçada pelos agentes do SIM, culminou numa série de episódios de intimidação e abusos, em que alguns deles foram presos e também enviados a “La 40”.

Diante das denúncias das prisões e torturas, delegados da Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiram, em agosto de 1960, expulsar a República Dominicana e impor sanções diplomáticas e econômicas ao país. Mas nem a oposição nem a comoção internacional conseguiram frear o autoritarismo de Trujillo. Foi assim que, a um só tempo, o ditador começou a perder o apoio tanto da igreja quanto do seu maior aliado, os Estados Unidos.

Em novembro de 1960, Trujillo ordenou o assassinato das irmãs Minerva, Patria e Maria Tereza Mirabal, presas por pertencerem ao Movimento 14 de Junho. Apesar de terem sido libertadas graças à intervenção da Comissão de Paz da OEA, Trujillo estabeleceu um plano violento para eliminá-las:  mandou transferir os respectivos maridos, detidos em Santo Domingo, para a prisão de Puerto Plata, a duas horas de onde vivia a família, obrigando-as a viajar para visitá-los. Numa dessas viagens, as irmãs Mirabal foram detidas numa emboscada, torturadas e assassinadas, juntamente com o motorista, Rufino de La Cruz. Seus corpos foram colocados de volta no carro e lançados num precipício, a fim de simular um acidente.

Esse brutal assassinato marcou o início da queda de Rafael Trujillo. O caso das irmãs Mirabal despertou a solidariedade de grande parte da sociedade dominicana, cansada do autoritarismo do governo. Em 30 de maio de 1961, numa emboscada preparada por seus próprios funcionários e financiada pela CIA, Trujillo foi assassinado.

Galeria 

Carro de Trujillo, cravejado de balas, instantes após seu assassinato. (Foto: Reprodução)
Sessenta tiros: jornalistas observam o carro, perfurado de balas, no qual Trujillo foi assassinado, em Ciudad Trujillo (Santo Domingo), dias após a investida. Segundo a versão oficial, dois dos assassinos foram mortos no tiroteio com a polícia
(Foto: Bettmann/Getty Images)

 

Literatura

Livro: “Cuentos Escritos en el Exilio” (1962)
Autor: Juan Bosch (1909-2001), República Dominicana

Cuentos escritos en el exilio, Juan Bosch
Capa de “Cuentos Escritos en el Exilio” (1962)

Apesar de a poesia ser o gênero mais expressivo da literatura dominicana, o escritor e político Juan Bosch destacou-se como um grande contista. Bosch começou a publicar seus textos ainda em 1933, com o livro “Camino Real”.

Desde o primeiro momento, suas obras foram marcadas pela preocupação social, abordando, no dialeto local, o duro cotidiano dos camponeses de Cibao, a província natal do escritor. No final da década de 1930, Bosch foi preso por se opor à ditadura de Trujillo e teve de se exilar. Vivendo em Cuba, fundou em 1939 a mais importante organização de oposição ao ditador: o Partido Revolucionário Dominicano (PRD).

Durante os 25 anos de exílio, Juan Bosch aliou sua carreira literária à atuação política. Participou do planejamento de ações para derrubar Trujillo, todas frustradas, como a expedição de Cayo Confites em 1947. Publicou contos nos quais o engajamento em causas sociais e políticas se aliava a elementos de fantasia, como o conto “Dos Pesos de Agua”, de 1942, e o livro “Ocho Cuentos”, de 1947.

Seu retorno à República Dominicana deu-se somente em 1962, após o assassinato de Trujillo. Nessa época, publicou um novo livro: “Cuentos Escritos en el Exilio”. Em dezembro, Juan Bosch foi eleito presidente de seu país nas primeiras eleições realizadas desde 1930, mas foi deposto menos de um ano depois e obrigado a se exilar novamente.

Em 1965, o coronel Francisco Caamaño liderou uma rebelião que derrubou a junta militar e exigiu a volta de Bosch à Presidência. Entretanto, a reação dos Estados Unidos, que temia o surgimento de uma nova Cuba no Caribe, foi imediata: enviou nada menos de 42 mil soldados — com a colaboração do Brasil, que vivia sob ditadura — para a República Dominicana.

Nesse período, Juan Bosch publicou dois romances e diversos livros de ensaios sobre política, história e sociologia.

Sugestões de leitura

  • “La Sangre” (1914) — Tulio Manuel Cestero
  • “Un Día Cualquiera” (1958) — Virgilio Díaz Grullón
  • “Judas y el Buen Ladrón” (1962) — Marcio Veloz Maggiolo
  • “El Masacre se Pasa a Pie” (1973) — Freddy Prestol Castillo