1954 5 de abril

Acaba o conflito de Trombas e Formoso

Polícia goiana é obrigada a recuar ante a resistência armada dos posseiros

Em Trombas e Formoso (Goiás), camponeses armados obrigam forças policiais do estado a recuar. Termina assim a Batalha de Tataíra, com a vitória dos posseiros, que pegaram em armas para defender o direito de permanecer em terras devolutas na região, situada a 300 quilômetros da capital, Goiânia.

Os camponeses haviam recorrido às armas após se esgotarem todas as alternativas para a solução pacífica da disputa das terras próximas da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (Cang). A ocupação teve início em 1942, por camponeses sem terra atraídos pela promessa de serem absorvidos pela colônia. O empreendimento, criado no governo Vargas como parte do programa Marcha para o Oeste, destinava-se a expandir as fronteiras agrícolas para Goiás e Mato Grosso.

No entanto, a partir de 1950 os camponeses começaram a sofrer a ação de grileiros, que, valendo-se da conivência de cartórios, advogados e juízes da região, descobriram um requerimento de concessão de sesmaria datado de 1775.

A partir desse documento, forjaram uma cadeia sucessória que indicou como herdeiros uma família de lavradores de Pirenópolis. Comprando as terras por preço irrisório, os grileiros obtiveram as escrituras de cessão de direitos hereditários, o que lhes garantiu uma liminar de reintegração de posse.

Exigindo a retirada imediata dos posseiros, os falsos proprietários valeram-se da violência, queimando barracos, destruindo plantações e espancando os lavradores, suas esposas e filhos.

Os posseiros recorreram a todos os meios legais para garantir sua permanência na terra. Seu principal líder, José Porfírio, buscou por diversas vezes a ajuda do governo para resolver o conflito.

Em 1953, os lavradores realizaram uma coleta de fundos para que Porfírio pudesse ir ao Rio de Janeiro entregar uma carta ao presidente Vargas. O encontro pessoal não ocorreu, mas o documento encontra-se no Fundo da Secretaria da Presidência da República, no Arquivo Nacional.

Essa fase da luta se encerraria em 1954, quando, esgotadas as tentativas legais para solucionar a questão, os posseiros resolveram defender suas posses com armas na mão.

A batalha chamou a atenção do resto do país. Criou-se uma rede de solidariedade aos posseiros, formada por militantes do PCB, deputados estaduais e federais, estudantes e intelectuais.

Em 1957, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) apuraria denúncias de violência contra os camponeses. No ano seguinte, o governo de Goiás faria recuar suas tropas, e a região seria autogerida pelos posseiros, como se fosse um enclave dentro do território goiano.

O golpe militar de 1964 extinguiria a experiência organizativa de Trombas e Formoso — e seu líder, José Porfírio, entraria para a lista dos desaparecidos políticos na ditadura.