1957 Janeiro

Premiado o 'Auto da Compadecida' no Rio

Obra de Ariano Suassuna mescla circo, teatro popular e cultura ibérica

Peça “O Auto da Compadecida” é aplaudida no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, após a apresentação para o 1º Festival de Amadores Nacionais. A peça fica em primeiro lugar, e o diretor, Clênio Vanderlei, conquista a medalha de ouro de direção.

Para enorme surpresa do escritor Ariano Suassuna e do grupo Teatro Adolescente do Recife (TAR), a apresentação de “O Auto da Compadecida” causou furor naquele festival amador do Rio de Janeiro. Afinal, apenas quatro meses antes, fora recebida com críticas ao se apresentar no Teatro Santa Isabel, na capital pernambucana — pelo mesmo grupo e sob a mesma direção.

No Rio, porém, além de levar o primeiro lugar, o grupo faria uma temporada de três meses no Teatro Dulcina. Dois anos depois, percorreria a Europa com a Companhia Cacilda Becker.

“O Auto da Compadecida” se tornaria um dos textos mais montados dos palcos brasileiros e inauguraria um novo tipo de teatro, baseado na tradição popular. Premiadíssimo, seria traduzido na Polônia (1959), Estados Unidos (1963), Países Baixos (1964), Espanha (1965), França (1970) e Alemanha (1979 e 1986).

Um dos temas centrais de “O Auto da Compadecida” é a justiça social, Suassuna aponta, de forma bem-humorada, erros e fraquezas humanas como a ganância, a avareza, a soberba e a violência. Por outro lado, a capacidade criativa e imaginativa de Chicó e os truques armados por João Grilo são exemplos da forma como os mais humildes criam artimanhas para sobreviver.

Permanentemente às voltas com dificuldades e desafios que põem à prova seus princípios, valores e formas de ação, os dois personagens formam uma dupla cômica muito semelhante às dos tipos circenses tradicionais, e isso é outra influência da peça: o narrador de “O Auto da Compadecida” é um palhaço.

A obra de Suassuna funde a cultura ibérica, representada por autores como Gil Vicente e Calderón de La Barca, aos temas da cultura popular recolhidos e recontados por cordelistas do Nordeste.