1972 11 de janeiro

Caetano e Gilberto Gil: 'Back in Bahia'

Músicos voltam depois de quatro anos de exílio e lançam álbuns históricos

Depois de três anos em Londres, Caetano Veloso e Gilberto Gil retornam ao Brasil e lançariam dois álbuns históricos, mesclando raízes profundamente brasileiras e a bagagem acumulada no exílio: “Transa”, de Caetano, gravado na Inglaterra, e “Expresso 2222”, de Gil. Os dois compositores haviam sido presos em São Paulo na noite 27 de dezembro de 1968, duas semanas depois da edição do AI-5. Boatos na imprensa disseram que Caetano e Gil teriam desrespeitado o Hino Nacional em um show na boate carioca Sucata, mas a acusação que pesava sobre eles era de “incitar a juventude à rebeldia”.

De São Paulo, foram levados ao Rio e tiveram os longos cabelos raspados. Ficaram presos por dois meses em vários quartéis, inclusive o do Exército, no subúrbio de Realengo, e mais dois meses confinados em prisão domiciliar em Salvador. Em maio foram autorizados a se exilar “voluntariamente” na Inglaterra. Na véspera da partida, Gil registrou a prisão no samba-despedida: “Alô, alô, Realengo... Aquele abraço!”

No começo do exílio, sem poder trabalhar, viveram de direitos autorais, contando com a solidariedade de artistas brasileiros que gravaram suas composições: Roberto Carlos (“Como Dois e Dois”), Erasmo Carlos (“De Noite na Cama”), Elis Regina (“Fechado pra Balanço), Maria Bethânia (“Janelas Abertas nº 2") e Gal Costa (“Deixa Sangrar”).  Caetano foi lembrado no Brasil na canção “Quero Voltar pra Bahia”, o maior sucesso de Paulo Diniz, e “Mano Caetano”, de Jorge Ben Jor. O desterro dos baianos famosos funcionava como uma acusação à brutalidade da ditadura.

Em Londres,Caetano gravou um álbum com canções do exílio, como “London London” e “It's a Long Way” ("Maria Bethânia, please send me a letter..."). De volta ao Brasil, lançou "Transa", em que revisitou os clássicos brasileiros Luiz Gonzaga e Monsueto Menezes e musicou um poema de Gregório de Matos do século 17 (“Triste Bahia”).

O histórico “Expresso 2222”, de Gilberto Gil, também trouxe uma forte canção de exílio: “Back in Bahia” ("Lá em Londres vez em quando me sentia longe daqui..."). O disco reapresentou aos jovens o talentoso e esquecido Jackson do Pandeiro, em dois clássicos: “Chiclete com Banana” (Almira e Gordurinha) e “O Canto da Ema” (João do Vale, Viana e Cavalcanti). Na penúltima faixa, Gil decretava: “O sonho acabou / e quem não dormiu no sleeping bag nem sequer sonhou...”