1985 15 de janeiro

Eleição de Tancredo põe fim à ditadura

21 anos após o golpe militar de 1964, regime chega ao fim e começa a transição

Tancredo Neves é eleito presidente da República pela via indireta, com 480 votos contra 180 dados a Paulo Maluf e 26 abstenções no Colégio Eleitoral. Sua eleição foi possível graças a uma aliança com os dissidentes do partido oficial, o PDS, que reagiram aos métodos de aliciamento de Maluf.

O documento básico da aliança, o Compromisso com a Nação, previa mandato presidencial de quatro anos, remoção das leis e regulamentos autoritários e convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte a ser eleita no ano seguinte, além da indicação de José Sarney como candidato a vice. Apelando à participação popular, a nova coalizão ressuscitou o espírito das Diretas-Já em comícios e mobilizações por todo o Brasil, em apoio à eleição que poria fim à ditadura. 

Tancredo era um conciliador nato e tinha uma rica biografia política. Fora ministro da Justiça de Getúlio Vargas e, depois de articular a solução parlamentarista que garantiu a posse de João Goulart na crise de 1961, tornou-se primeiro-ministro. No golpe, foi dos poucos parlamentares que acompanhou Goulart ao aeroporto, na partida para Porto Alegre, e o único pessedista a votar contra a eleição indireta de Castelo Branco. 

Dias depois de ser eleito, Tancredo fez uma longa viagem internacional e, na volta, dedicou-se às delicadas negociações para a montagem do ministério. Se a Aliança Democrática garantiu a vitória do peemedebista, determinou também a natureza heterogênea de seu ministério, que acabaria sendo herdado por Sarney. Essa foi a primeira frustração no meio da onda de esperança com o fim da ditadura. Dele participaram aliados que serviram ao regime, como Aureliano Chaves (Minas e Energia), Antonio Carlos Magalhães (Comunicações) e o banqueiro Olavo Setúbal (Relações Exteriores). Para a Fazenda, Tancredo nomeou seu sobrinho Francisco Dornelles, um economista ortodoxo. O PMDB progressista emplacou Pedro Simon na Agricultura, João Sayad no Planejamento e Almir Pazzianotto no Trabalho. Para a Justiça, foi indicado Fernando Lyra, um combatente do grupo "autêntico" nos tempos mais duros da ditadura, que se tornara articulador da candidatura de Tancredo. 

Nesse período, o presidente eleito, que já vinha sentindo dores no abdômen, preferiu adiar o tratamento para depois da posse, marcada para 15 de março. No dia 14, porém, depois de uma missa de ação de graças, as dores se acentuaram e Tancredo teve de fazer uma cirurgia de emergência no Hospital de Base de Brasília. Em seu lugar, Sarney, que exerceria o cargo até o final do mandato, prestou juramento. As complicações pós-operatórias exigiriam a remoção de Tancredo para São Paulo, onde viria a morrer em 21 de abril, após 39 dias de internação e diversas cirurgias.

Assim, de modo inesperado, a transição política seria concluída com Sarney na Presidência e Ulysses Guimarães no estratégico posto de presidente da Câmara e do PMDB. Com a morte de Tancredo, Sarney teve um governo tumultuado, mas concluiu a transição, entregando o cargo ao primeiro presidente eleito pelo voto direto em 1989, Fernando Collor de Mello.