1974 15 de novembro

MDB impõe derrota à ditadura nas urnas

Vitória da oposição para o Senado surpreende governo e muda quadro político

O MDB obtém expressiva vitória nas eleições parlamentares, elegendo 335 deputados estaduais, 160 deputados federais e 16 senadores em 22 Estados, com um índice de abstenção de apenas 10%. O resultado do pleito surpreendeu a ditadura e colocou em xeque o projeto político dos generais Geisel e Golbery.

O resultado coroou a estratégia adotada pelo MDB no ano anterior com a anticandidatura de Ulysses Guimarães. No rádio e na TV, candidatos denunciavam os problemas urbanos, o custo de vida e os baixos salários num país que deixara para trás o “milagre econômico”. O lema da campanha era uma denúncia subliminar da falta de liberdade: “Vote MDB. Você sabe por quê”.

O partido venceu nos maiores Estados, inclusive naqueles onde lançou nomes pouco conhecidos. Houve debates pela TV em São Paulo e no Rio Grande do Sul, que favoreceram a oposição. Foram eleitos senadores Orestes Quércia (SP), Itamar Franco (MG), Saturnino Braga (RJ), Paulo Brossard (RS), Marcos Freire (PE) e Mauro Benevides (CE), entre outros. A bancada de deputados “autênticos” fortaleceu-se na Câmara. Com mais de um terço dos votos no Congresso, o MDB conquistou o direito de requerer a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) e barrar a votação de emendas constitucionais.

Era um golpe na estratégia da “distensão lenta, gradativa e segura”, que presumia o controle do Congresso pela Arena para aprovar reformas na Constituição. O governo esperava vencer as eleições com a máquina política do seu partido, azeitada naquele ano pela indicação de novos governadores em todos os Estados. Derrotada nas urnas pela primeira vez, a ditadura iria mudar as regras para as eleições de 1978, proibindo os debates e o acesso de candidatos ao rádio e TV e tornando indireta a indicação de um terço do Senado. 

A eleição de 1974 marcou uma guinada política no país. Começou ali o declínio político e institucional da ditadura e o fortalecimento da oposição parlamentar, num processo de transição que iria se prolongar pelos dez anos seguintes. Ao longo desse período, o país conheceria a força do novo sindicalismo, de novos movimentos sociais e novos partidos políticos – instituições que organizariam as forças populares rumo à democracia.