1963 19 de dezembro

Carvalho Pinto se demite após 6 meses

Ministro da Fazenda contrariou os banqueiros e desagradou às esquerdas

O ministro da Fazenda, Carvalho Pinto, apresenta sua carta de demissão ao presidente João Goulart e encerra uma breve e frustrada gestão na Pasta.

Filiado ao Partido Democrata Cristão (PDC) e ex-governador de São Paulo, Carlos Alberto de Carvalho Pinto havia sido nomeado seis meses antes, numa tentativa de Jango de se reaproximar do empresariado e num momento em que a situação econômica do país era dramática.

Sob o pretexto de que o governo brasileiro não honrara a promessa de indenizar a Bond & Share — cuja subsidiária fora encampada no governo gaúcho de Leonel Brizola — e não fizera um programa de estabilização, os Estados Unidos interromperam as negociações da dívida externa e os programas de ajuda financeira, o que inviabilizava cumprir nossos compromissos externos de curto prazo.

Reduzindo o dinheiro em circulação e controlando o crédito, Carvalho Pinto tentou resolver o grave problema fiscal e inflacionário, mas só conseguiu desagradar à esquerda. Por outro lado, medidas como a obrigatoriedade de compra de letras do Tesouro pelos bancos particulares provocaram reação dos banqueiros e irritaram a direita.

A criação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para fiscalizar os trustes internacionais, e o estudo para regulamentar a lei de remessa de lucros também encontraram fortes reações negativas do governo norte-americano.

Na tentativa de trazer dinheiro novo, negado ao país pelos EUA, Carvalho Pinto cogitou até um acordo com a União Soviética.

Jango, isolado e frustrado nas suas tentativas de resolver a crise com apoio conservador, acabou fazendo concessões à esquerda que demoliram a eficácia das medidas de restrição fiscal e monetária de seu ministro — extensão para o campo dos benefícios da Previdência Social; instituição do 13º salário e cassação da licença para lavra da São João Del Rei Mining, subsidiária da norte-americana Hanna Co.

Desautorizado pelo presidente, a Carvalho Pinto não restou alternativa, senão pedir demissão.

Em março do ano seguinte, ele apoiaria publicamente o golpe militar.