1959 23 de março

O movimento contra a aspereza na arte

Manifesto Neoconcreto critica obras que não se diferenciam da engenharia

Concretistas cariocas rompem com os paulistas. A divergência ficou clara na abertura de uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e a divulgação, no suplemento dominical do “Jornal do Brasil”, do Manifesto Neoconcreto.

Nos anos anteriores, os artistas que se consideravam herdeiros do construtivismo no Brasil se dividiram entre o concretismo ortodoxo, predominante em São Paulo, e os que o criticavam, acusando-o de um “desvio mecanicista” da arte.

A crítica à ortodoxia concretista vinha ganhando terreno no Rio. O estopim do rompimento formal seria a proposta dos paulistas de formular um plano de trabalho de 10 anos, projeto que, para os cariocas, se configuraria na prova definitiva de que o concretismo se desviara para um caminho “cientificista e positivista”, que não fazia distinção entre o trabalho de um artista e o de um engenheiro.

Para os neoconcretistas, a abstração mecânica e a adoção de técnicas provenientes da física levavam a um entendimento cientificista e positivista da arte. Apagava-se, dessa forma, a especificidade da obra de arte, bem como a diferença entre a intuição do artista e o pensamento objetivo do engenheiro.

Nem por isso, no entanto, os neoconcretistas aderiram ao irracionalismo como um antídoto ao desvio lógico do concretismo. Eles defendiam uma arte não figurativa e de linguagem geométrica que não deixasse de lado a especificidade e a originalidade do trabalho artístico.

Na perspectiva do Manifesto, a criação artística deveria ser, ao mesmo tempo, independente do conhecimento objetivo da ciência e do conhecimento prático da moral, da política ou da indústria. No Manifesto, citaram como referência Piet Mondrian, Nikolaus Pevsner e Kazimir Malevich.

O Movimento Neoconcreto reuniu artistas nos campos distintos da pintura, escultura, gravura e literatura, como Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Lygia Clark e Lygia Pape. Reinaldo Jardim, editor do suplemento que publicou o Manifesto, também era seu signatário.

Entre 1960 e 1961, o grupo faria mais duas exposições coletivas, antes de se desmembrar. Artistas remanescentes do neoconcretismo participariam posteriormente de outros movimentos de renovação artística, como o nacional-popular e o tropicalismo.