1951 31 de janeiro

O 'Velho' está de volta ao Catete

Multidão recebe Getúlio com carnaval e faz enormes filas para abraçá-lo

“Ordenastes e eu obedeci!” — discursa Getúlio Vargas, das escadarias do palácio Tiradentes, logo após ser empossado como presidente pelo Congresso. A multidão, que na véspera o recebera com confetes e serpentinas, faz silêncio para ouvi-lo. “A minha candidatura [...] veio diretamente do povo, de seus anseios e de seus clamores”.

O carnaval continuou após a última palavra do discurso do presidente. O cortejo festivo acompanhou o carro que conduziu Getúlio lentamente ao palácio do Catete, onde recebeu, de Eurico Gaspar Dutra, a faixa presidencial.

Da janela do palácio, Getúlio acenou para o público, mas isso não foi suficiente. A multidão ameaçava invadir o prédio. Getúlio, então, ordenou que fosse liberado o acesso à varanda, e longas filas se formaram para cumprimentá-lo. Assim foi até as oito da noite, quando se encerrou a maior aclamação pública até então recebida por um chefe de Estado brasileiro.

A formalização da posse espantaria o fantasma que ameaçou o seu mandato e atendia pelo nome de UDN (União Democrática Nacional). O partido de Carlos Lacerda entrara com um recurso na Justiça Eleitoral questionando a legitimidade da vitória de Getúlio, já que ele não havia obtido a maioria absoluta dos votos. Essa exigência, porém, não era prevista na Constituição, e o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou o pedido da UDN.

A posse também teve o aval do ministro da Guerra de Dutra, general Canrobert Pereira da Costa, e de outros chefes militares que rejeitaram a manobra golpista.

Fechados os portões de Catete, o aclamado Getúlio anunciaria seu ministério — que, para surpresa de muitos, teve um perfil conservador.