1992 2 de outubro

O vergonhoso massacre do Carandiru

PM invade presídio para conter rebelião, mata 111 presos e fere 110

Uma briga entre facções de presidiários é o estopim para um confronto generalizado no interior da Casa de Detenção de São Paulo, que resultou num massacre que envergonharia o Brasil: 111 presos mortos e 110 feridos. Muitos corpos foram encontrados com as mãos sobre as cabeças, em sinal de rendição, ou algemados. Este foi o mais grave episódio na triste história do sistema prisional brasileiro.

Mais conhecida como Carandiru, a Casa de Detenção abrigava mais de 7 mil detentos em seus nove pavilhões. A capacidade oficial era de 3.250 pessoas. Após a eclosão do motim, os agentes penitenciários pediram ajuda da Polícia Militar. O então governador Luiz Antonio Fleury Filho estava no interior do Estado e foi avisado.  Por volta das 15h, o secretário de Segurança Pública, Pedro Franco de Campos, ordenou a invasão do presídio.

A tropa comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães entrou no Carandiru utilizando armamento pesado e munição letal em vez de balas de borracha. Com as luzes da Detenção cortadas, os policiais entraram atirando no escuro. Os presos que tentavam esconder-se em suas celas eram executados mesmo que se despissem completamente para provar que não estavam armados.

Em aproximadamente 20 minutos, a situação foi dominada e os sobreviventes foram obrigados e se deitar nus sobre o chão do pátio, onde ficaram por várias horas. Os primeiros carcereiros que entraram no presídio após a ação policial encontraram um cenário de horror: presos feridos gritavam por socorro, corpos mutilados empilhados, havia fogo nas celas e nos corredores, o piso das galerias estava inundado pela água de canos furados ou pelo sangue dos presidiários.  O chamado Massacre do Carandiru teve grande repercussão nacional e internacional. Nenhum policial morreu.

Os números do massacre só foram revelados à opinião pública um dia depois, data das eleições municipais. Pouco antes do fechamento das urnas, o secretário de Segurança revelou que 111 presos haviam sido mortos – até então, a imprensa divulgara oito mortes. O governo de São Paulo foi acusado de esconder a dimensão da tragédia para não prejudicar o candidato do PMDB, partido de Fleury.  

Passados 21 anos, foi concluído em 2014 o julgamento dos acusados, que durou 12 meses: 73 policiais militares foram condenados pelas mortes de 77 presos a penas que variaram entre 48 e 624 anos de prisão. Todos podem recorrer em liberdade. O coronel Ubiratan Guimarães já tinha sido condenado a mais de 600 anos de prisão. Ele recorreu da sentença e teve o julgamento anulado. O policial foi assassinado em 2006, em circunstâncias até hoje não esclarecidas. O Carandiru foi implodido em 2002 e deu lugar ao Parque da Juventude.