1962 7 de outubro

PTB cresce 75%, mas não obtém maioria

Com recursos dos EUA, UDN também se fortalece no último pleito antes do golpe

O PTB confirma tendência de crescimento e elege 116 deputados federais (contra 66 das eleições anteriores), apenas dois a menos que o PSD, maior bancada da Câmara dos Deputados. A UDN, principal partido de oposição, pula de 70 para 91 deputados, mas deixa de ser a segunda força na Câmara. No Senado, das 45 cadeiras disputadas, o PTB fica com 12, a UDN com 11, e o PSD com 17.

Aproximadamente 18,5 milhões de brasileiros — um quarto da população — foram às urnas na maior das eleições já realizadas até então no país. Do direito ao voto, continuaram excluídos os analfabetos, cerca de 40% da população.

Como as eleições nos estados não eram coincidentes, foram escolhidos governadores em apenas 11 estados. Em Pernambuco, venceu Miguel Arraes, uma das principais lideranças de esquerda do país. Também em vários estados houve eleições para deputados estaduais, prefeitos e vereadores.

Aquelas seriam as últimas eleições gerais diretas antes do início da ditadura militar, em 1964. As eleições de 1962 foram importantes também porque, pela primeira vez, os eleitores escolheram os parlamentares utilizando a cédula oficial entregue na cabine de votação pela Justiça Eleitoral, ao contrário dos pleitos anteriores, em que o votante recebia uma cédula entregue pelos partidos — muitas vezes já preenchida — antes da votação.

O sistema, que já havia sido utilizado nas eleições presidenciais de 1955 e 1960, porém sem contemplar os candidatos ao Congresso, foi considerado, juntamente com a folha individual de votação, um importante mecanismo para reduzir as fraudes eleitorais e as falsificações, além de evitar a coação ao eleitor.

As eleições de 1962 foram particularmente importantes devido ao contexto acirrado em que aconteceram. Desde setembro do ano anterior, quando Jânio Quadros renunciara à Presidência da República e João Goulart assumira o cargo sob o regime parlamentarista, a polarização entre os partidos e na própria sociedade brasileira apenas aumentava: esquerda versus direita, favoráveis e contrários às Reformas de Base.

Além disso, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de João Goulart, havia adotado um programa trabalhista que se aproximava claramente da social-democracia e era o partido que mais rapidamente crescia em termos federais.

Entretanto, apesar da expressiva votação do PTB, o Congresso consagrado pelas urnas imporia elementos de instabilidade ao governo de João Goulart. Uma forte bancada conservadora — não apenas da UDN, mas de parte do PSD — foi eleita graças aos recursos financeiros repassados por multinacionais norte-
-americanas e pelo próprio governo dos Estados Unidos, para fundos destinados a evitar a “comunização” do mais importante país da América Latina.

Conforme apuraria posteriormente uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), 250 candidatos a deputado federal, anticomunistas e favoráveis ao alinhamento do Brasil aos Estados Unidos, foram financiados com dinheiro norte-
-americano via Associação Brasileira de Ação Democrática (Ibad) ou seu braço publicitário, a Associação Democrática Popular (Adep).

A nova composição do Legislativo inviabilizaria as medidas necessárias às Reformas de Base defendidas por Jango e pelas forças de esquerda que o apoiavam.

Outra novidade das eleições de 1962 foi a candidatura de militares de baixa patente. Vários sargentos foram eleitos pela população mas, logo em seguida, impedidos de tomar posse, o que aumentaria a inquietação no meio militar e culminaria com a Revolta dos Sargentos, em setembro de 1963.

Os resultados da eleição parlamentar de 1962 contribuiriam fortemente para o acirramento da instabilidade política que teria seu desfecho no golpe de 1964.