1937 11 de maio

Sítio do Caldeirão, no CE, é massacrado

Atacada com metralhadoras e aviões, comunidade nordestina é dizimada

Duzentos homens da polícia militar do Ceará, munidos de fuzis e metralhadoras, invadem e exterminam a comunidade de Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no município do Crato, região do Cariri. O ataque teve o reforço de bombas lançadas por dois aviões enviados pelo ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra.

Formada por romeiros, flagelados da seca, camponeses e negros, a maioria vinda de Juazeiro do Norte — aonde tinham ido atrás das bênçãos do padre Cícero —, a comunidade se estabeleceu em 1926 no sítio de Santa Cruz do Caldeirão, por indicação do padre Cícero, que cedeu as terras ao beato José Lourenço, líder do grupo. No seu auge, o Caldeirão chegou a ter cerca de dois mil habitantes vivendo numa espécie de cooperativa, produzindo quase tudo de que necessitavam — machados, enxadas, foices, frutas, cereais, verduras, roupas e panelas — em sistema de mutirão, dividindo o que produziam de acordo com as necessidades da cada um.

A elite do Crato via aquela comunidade religiosa como uma ameaça ao latifúndio, ao esquema de exploração dos camponeses e ao poder da igreja católica, muito conservadora e ligada aos poderosos do lugar. José Lourenço — analfabeto e penitente — era descrito como um perigoso líder comunista capaz de articular um levante contra a ordem pública. Espalharam também que na comunidade viviam os foragidos do levante de 1935 em Natal.

Em 11 de setembro de 1936, policiais civis e militares entraram no povoado, mas não encontraram o beato, que se escondera nas matas da serra do Araripe. Diante da atitude pacífica e ordeira dos habitantes do Caldeirão, optaram por incendiar as casas, expulsar os moradores e saquear seus bens.

Mas os moradores retornaram, aos poucos. O governo então enviou o capitão José Bezerra e 11 soldados da polícia de Juazeiro do Norte para espionar o povo do Caldeirão. Mas os espiões foram descobertos, e entraram em confronto com um grupo de camponeses. O capitão Bezerra, três praças e cinco camponeses foram mortos. Foi a gota d’água.

Os poderosos do Crato e a imprensa do Ceará espalharam que fanáticos iriam invadir a cidade, matar e destruir tudo. O boato chegou aos ouvidos do governador do Ceará, Meneses Pimentel, que pediu apoio ao ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra; este autorizou o comandante da 7ª Região Militar a prestar o auxílio necessário.

Na madrugada de 11 de maio de 1937, dois aviões e 200 soldados destruíram o povoado e metralharam os colonos, dizimando aquele povo pacífico. Os que não morreram na hora foram caçados por policiais e jagunços a serviço dos coronéis. Muitos deles morreram degolados.

O Exército não guardou registros da operação e até hoje nega o massacre.