1962 maio

Glauber é premiado com longa de estreia

Cineasta baiano lança 'Barravento' e conquista reconhecimento internacional

O desconhecido cineasta brasileiro Glauber Rocha lança “Barravento”, seu primeiro longa-metragem, e leva o prêmio Opera Prima do Festival de Karlovy Vary, na então Tchecoslováquia, em julho.

Dois anos depois, em 1964, chegaria às telas “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), considerada sua obra-prima.

Glauber acabaria por personificar o Cinema Novo, movimento estético cinematográfico com linguagem moderna, ousada e muitas vezes hermética, que assumiu como tarefa refletir sobre o Brasil, sua identidade e os caminhos de uma revolução transformadora.

Os objetivos daqueles cineastas podiam ser resumidos a três: modificar a história do cinema no Brasil; modificar o Brasil; e, se sobrasse tempo, modificar o mundo também.  

O Cinema Novo descolonizou o cinema nacional, apostou em produções independentes de baixo custo, esforçou-se por identificar os problemas mais agudos do homem simples do povo, acreditou-se encarnação da consciência nacional e apresentou-se como um espelho intelectual, cultural e filosófico da nação — tudo isso sem perder de vista a autonomia estética da obra de arte.

O envolvimento militante com a realidade e a busca de uma identidade nacional, na maioria das vezes encontrada nos rostos e nas vidas do nordestino e do migrante, funcionou como polo intelectual para artistas de outras áreas e aproximou o cinema da literatura regional e das artes plásticas dos anos 1930, em especial das obras de João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Di Cavalcanti, José Pancetti e Cândido Portinari — identificadas com o sertanejo e o migrante nordestino.

Falar do povo, pelo povo, dar voz ao povo — o debate era intenso, mas o cerne era invariavelmente a busca das raízes desse povo, cuja identidade nacional seria completada no futuro, durante o processo da revolução brasileira. E a revolução brasileira significava, no dizer de Glauber Rocha, “a vida e a plenitude da existência”.