1942 4 de julho

UNE avisa: 'estamos com a democracia!'

Milhares de estudantes vão às ruas do Rio em manifestação contra o nazismo

Em manifestação promovida pela União Nacional dos Estudantes (UNE), alunos de universidades e colégios do Rio fazem um enorme desfile antifascista no centro da capital federal, no aniversário da independência dos Estados Unidos. Aplaudidos pelas pessoas nas janelas dos prédios, eles dão vivas à democracia e desfilam com cartazes e carros alegóricos, mostrando muito humor e satirizando os líderes dos países do Eixo.

Naquele dia, além de Getúlio, Osvaldo Aranha, Alzira Vargas e Ernâni do Amaral Peixoto — marido dela e interventor federal no Rio —, foram também homenageados os marujos dos navios afundados na costa brasileira por submarinos alemães.

Os estudantes seguiram pelas ruas gritando por liberdade. Um carro alegórico, que apresentava Hitler, Mussolini e o imperador Hiroíto (do Japão) “presos” numa gaiola, foi um dos mais ovacionados. Os integralistas também não foram poupados: outro carro alegórico trazia uma enorme panela, com galinhas verdes depenadas e a inscrição “como eram verdes as galinhas de outrora!”.

O ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, via nas manifestações pró-Aliados uma atividade comunista. “Sob a capa de sediças predicações de um saudosismo democrático parasitário”, os comunistas, segundo ele, procuravam “preparar a alma da nação para todas as acomodações e abdicações com as esquerdas internacionalistas”. Por isto, recomendou mais censura à imprensa e à publicidade. Só não esperava que a própria filha de Getúlio, Alzira, fosse à manifestação, e ainda acompanhada do marido, interventor federal.

Vinte e uma petições dos estudantes para realizar passeatas contra o torpedeamento de navios brasileiros já haviam sido indeferidas por Filinto Müller, chefe de polícia da capital federal. Ante as negativas, os estudantes apelaram para o ministro da Justiça em exercício, Vasco Leitão da Cunha, que autorizou as manifestações. Filinto foi então ao gabinete de Vasco para demovê-lo da ideia, mas só conseguiu receber voz de prisão por desacato, após uma violenta discussão. Ficou 48 horas preso, com a anuência de Getúlio, o que representou uma baixa importante entre os simpatizantes do nazismo.

Por isso, já na passeata, os estudantes gritavam, entre outros refrãos: “Vasco, um a zero!”.

Como protesto, Filinto Müller pediria demissão do cargo em 17 de julho. Em contrapartida, também sairiam do governo, no mesmo dia, Francisco Campos, ministro titular da Justiça, e Vasco Leitão da Cunha.

Apesar de tudo, o gelo havia sido quebrado. Pela primeira vez desde o início do Estado Novo, as ruas eram palco de uma grande manifestação política.