Intérpretes do Brasil

Mário Pedrosa

(Foto: Conteúdo Estadão AE)

O Brasil nos temas do Congresso de Varsóvia
[…] Em que medida o elemento nacional ou regional pode participar no sentido de fundir e unificar ou diversificar e diferenciar o processo de internacionalização da arte moderna? Esta questão é de capital importância para que se aborde o problema em seu conjunto. Ela diz respeito particularmente aos países jovens, em formação. Se fôssemos falar no abusivo jargão político-econômico em voga, logo sairia em cena o caso dos países “subdesenvolvidos” versus os hiperdesenvolvidos. E acabaríamos caindo no atoleiro do nacionalismo.
“Jornal do Brasil”, 10 de fevereiro de 1960

Socialista democrático, Mário Pedrosa foi um dos principais críticos de arte do Brasil.
(Foto: Conteúdo Estadão AE)

Mário Xavier de Andrade Pedrosa foi um extraordinário intelectual e ativista político que se destacou como criador da moderna crítica de arte brasileira. Entre as décadas de 1940 e 1960 publicou "Arte, Necessidade Vital" (1949), "Panorama da Pintura Moderna" (1952) e "Dimensões da Arte" (1964), entre outras obras. Após o golpe de 1964, publicou os dois livros que o consagrariam como pensador da formação histórica do Brasil: "A Opção Brasileira" e "A Opção Imperialista", ambos em 1966.

Pedrosa nasceu em 1900, no pequeno município de Timbaúba (PE), numa família de senhores de engenho cujos membros haviam migrado para vida pública. Em 1923 graduou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.

Filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1926 e foi indicado para o curso de formação de militantes em Moscou. Na escala em Berlim, porém, inteirou-se do confronto entre Stálin e Trótski e desistiu do curso, aliando-se aos trotskistas. Em Paris, aproximou-se também dos surrealistas, inclusive de André Breton.

De volta ao Brasil, em 1929, passou a combater o stalinismo: engajou-
-se na Frente Única Antifascista e feriu-se no confronto com os integralistas. Perseguido pelo Estado Novo, voltou à França — desta vez como exilado — e lá participou ativamente da criação da 4ª Internacional. Com a redemocratização, voltou ao Brasil e militou na Esquerda Democrática, que daria origem ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Afastado do trotskismo, passou a divulgar o ideário político de Rosa de Luxemburgo.

Nessa fase, Pedrosa consolidou-se como crítico de arte e pensador da estética. Incentivou movimentos de vanguarda, como o concretismo e a poesia concreta, tornando-se, mais tarde, mentor do neoconcretismo. Atuava como curador de exposições e bienais, produzia catálogos de arte, participava de debates e atuava na imprensa. Escreveu para o “Correio da Manhã”, a “Tribuna da Imprensa” e a “Folha de S.Paulo”; no “Jornal do Brasil”, criou a coluna de artes plásticas do Caderno B, em 1957. Fugia dos alinhamentos automáticos tanto na política como na arte. Defendia uma produção artística que aliasse o específico do Brasil com o universal das vanguardas internacionais.

Após o golpe de 1964, exilou-se no Chile, onde dirigiu o Museu da Solidariedade. Aproximou ex-guerrilheiros brasileiros ali exilados do teórico trotskista argentino Nahuel Moreno, o que deu origem à organização Liga Operária, embrião da Convergência Socialista, um dos grupos que participariam, anos depois, da criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Voltou ao Brasil em 1977 e engajou-se na criação do PT, em 1980.

Morreu no Rio de Janeiro, em 1981, aos 81 anos.

Principal obra

Panorama da Pintura Moderna, 1952.

Panorama da pintura moderna, de Mário Pedrosa