Intérpretes do Brasil

Álvaro Vieira Pinto

(Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã)

Mas há um lado da problemática imposta pelo desenvolvimento material que devemos apreciar. A proliferação quantitativa determina a pressão ascendente das massas, que se traduz pelo ingresso de um número cada vez maior de indivíduos no que poderíamos chamar de “área culturalmente iluminada” da sociedade. E, se cresce assim a quantidade dos que ingressam nessa área, ainda mais numerosa é a multidão dos que vão se colocando em torno dela, assediando-a, numa pressão crescente para nela penetrar.
"Ideologia e Desenvolvimento Nacional", 1956

Vieira Pinto acreditava que “sem ideologia do desenvolvimento, não há desenvolvimento”. (Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã)

Álvaro Vieira Pinto definia-se como um “filósofo pobre de um país subdesenvolvido”, frase indicadora de sua personalidade pessimista e do lugar que ocupou entre os intérpretes do Brasil nos anos 1950 e 1960. Médico e católico por formação, sustentava que não pode haver desenvolvimento nacional sem ideologia do desenvolvimento. Defendia, pois, a criação de instrumentos que “acelerassem” o tempo e favorecessem a industrialização brasileira. Para ele, esse era o caminho que levaria o país a um padrão autônomo de desenvolvimento, equidistante tanto do socialismo como do capitalismo.

Ao buscar as bases para uma terceira via de desenvolvimento, aproximou-se do terceiro-mundismo. Seus principais escritos foram "Ideologia e Desenvolvimento Nacional", de 1956, e "Consciência e Realidade Nacional", de 1960, ambos publicados pela editora do Iseb.

Nascido em Campos (atual Campos dos Goytacazes, RJ), em 1909, Vieira Pinto formou-se em Medicina, pela Faculdade Nacional de Medicina,  Física e Matemática, pela Universidade do Distrito Federal. Em 1934 filiou-se, com outros intelectuais católicos, à Ação Integralista Brasileira. A partir de 1951, começou a se afastar do pensamento conservador católico para se aproximar do nacionalismo.

Em 1955 foi convidado a dirigir o departamento de Filosofia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb). Na aula inaugural, em 1956, apresentou o ensaio "Ideologia e desenvolvimento nacional", em que externava seu otimismo em relação à industrialização e elaborava os conceitos de aceleração e retardamento do progresso, dividindo a sociedade brasileira em fatias de temporalidades segundo tal critério: a contradição fundamental do país seria entre a nação subdesenvolvida e a antinação, representada pelo imperialismo, e só poderia ser superada por uma revolução nacional que garantisse o acesso das massas ao trabalho mais qualificado.

Durante o governo de João Goulart, Vieira Pinto alinhou-se às esquerdas nacionalistas e defendeu as Reformas de Base. Ao apontar o papel emancipatório da cultura popular, passou a ser cortejado pela UNE e por seu Centro Popular de Cultura (CPC), que o convidaram para publicar o livro "A Questão da Universidade". Entre 1962 e 1964, dirigiu, com Ênio da Silveira, a coleção Cadernos do Povo Brasileiro, coordenando o quarto volume — "Por Que os Ricos Não Fazem Greve?".

Quando o golpe de 1964 cassou seus direitos políticos, Vieira Pinto se exilou e só voltou ao Brasil em 1968, às vésperas do AI-5. Desde então, passou a traduzir livros sob pseudônimos e dedicou-se a reflexões sobre educação. Morreu no Rio de Janeiro, em 1987.

Principal obra

Ideologia e Desenvolvimento Nacional, 1956.


Ideologia e Desenvolvimento Nacional, de Álvaro Vieira Pinto