Intérpretes do Brasil

Celso Furtado

(Foto: Conteúdo Estadão AE)

[...] o desenvolvimento da primeira metade do século 20 apresenta-se basicamente como um processo de articulação das distintas regiões do país em um sistema com um mínimo de integração. [...] Se, pela metade do século, a economia brasileira havia alcançado um certo grau de articulação entre as distintas regiões, por outro a disparidade de níveis regionais de renda havia aumentado notoriamente. À medida que o desenvolvimento industrial se sucedia à prosperidade cafeeira, acentuava-se a tendência à concentração regional da renda. É da natureza do processo de industrialização que as inversões só alcancem sua máxima eficiência quando se completam mutuamente, isto é, quando se coordenam funcionalmente em um todo maior. Numa economia de livre-empresa essa coordenação se faz um pouco ao acaso, e a probabilidade que tem cada um de fruir o máximo de vantagens indiretas é tanto maior quanto maior é o número de indivíduos que estão atuando simultaneamente.
“Formação Econômica do Brasil”, 1959.

Autor de ideias originais sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento, Celso Furtado foi ministro do Planejamento no governo João Goulart. (Foto: Conteúdo Estadão AE)

Celso Furtado foi um dos mais respeitados intérpretes da realidade brasileira, estudando problemas e executando projetos para o desenvolvimento econômico e social do país.

Nasceu em 1920 na cidade de Pombal, sertão da Paraíba, e aos 19 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil. No terceiro ano, migrou para o curso de Administração. Graduou-se em 1944, mas foi convocado para integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que atuaria na Segunda Guerra ao lado das forças aliadas.

Terminado o conflito, doutorou-se em Economia pela Universidade de Paris em 1948, com a tese "A Economia Colonial Brasileira (séculos 16 e 17): Elementos de História Econômica Aplicada”. Mudou-se para Santiago (Chile), a fim de integrar a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). Ali, firmou a convicção de que era preciso urgentemente “libertar a América Latina da dependência intelectual”.

Em 1954, Furtado publicou "A Economia Brasileira" e passou a atuar na política institucional. No governo de Juscelino Kubitschek, teve papel decisivo na criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Em 1962, como ministro do Planejamento do presidente João Goulart, elaborou o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social.

Após o golpe de 1964, teve os direitos políticos cassados. Exilou-se no Chile e, depois, nos Estados Unidos, onde atuou como professor universitário. De volta ao Brasil em 1981, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Integrou a comissão que elaborou o plano de ação para o então futuro governo de Tancredo Neves. Com a posse de José Sarney, tornou-se ministro da Cultura e formulou a primeira legislação de incentivos fiscais à produção cultural.  

Certa vez, Furtado revelou uma obsessão que o perseguia: entender “por que eles [os países ricos] encontraram o caminho certo, o do desenvolvimento, e nós o errado, o do subdesenvolvimento?”. Buscando respostas para a questão, produziu sua obra maior, "Formação Econômica do Brasil", publicado em 1959, que lhe conferiria autoridade como intérprete do Brasil. Combinando conhecimento histórico com análise econômica, Furtado demonstra, nesse livro, como a formação da economia brasileira levou, por exemplo, à cristalização da concentração de renda.

Para Fernand Braudel, célebre historiador do século 20, "Formação Econômica do Brasil" é um dos maiores livros de história econômica do mundo.

Celso Furtado morreu no Rio de Janeiro em 2004, aos 84 anos.

Principais obras 

A Economia Brasileira, 1954.

Formação Econômica do Brasil, 1959.

Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, 1961.

A Pré-Revolução Brasileira, 1962.

A Fantasia Desfeita, 1989.

Os Ares do Mundo, 1991.



Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado